domingo, 1 de fevereiro de 2009

Papel do Software Social na Construção de Ambientes de Aprendizagem

O uso do Software Social pode ter impacto, num futuro relativamente próximo, na organização dos ambientes de aprendizagem. O profissional da educação não pode contar apenas com os ambientes de aprendizagem formais susceptíveis de serem gerados na sala de aula, mas ter cada vez mais atenção aos chamados ambientes virtuais viabilizados pelas ferramentas que fazem parte do Software Social. Schaffert e Hilzensauer (2008) referem que o desenvolvimento e o sucesso de aplicações como os blogues e os wikis possibilitam a criação de ambientes de aprendizagem particulares, designados de Personal Learning Environments - PLE, termo introduzido pela primeira vez em 2004 e já referenciado noutro post deste blogue.
Attwell (2007) menciona a respeito dos PLE que estes não são aplicações, mas sim “uma nova abordagem no uso de tecnologias para a aprendizagem” (p. 1) e que o seu uso “pode ser útil e desempenhar um papel importante na aprendizagem no futuro” (pág. 2), pelo facto destas aplicações tornarem possível a agregação de diferentes serviços. Nestes ambientes digitais os alunos podem ter controlo sobre as suas experiências de aprendizagem (gestão de recursos, o trabalho que realiza, as actividades em que participa, etc.).
Os PLE são organizados de acordo com as necessidades e interesses do estudante. O facto de serem ambientes personalizados implica que o estudante adquira informação relativa a oportunidades de aprendizagem e a conteúdos provenientes de múltiplas comunidades e serviços. As fontes de informação, as actividades e as possibilidades de organizar a estrutura, as ferramentas, os materiais agregados, são seleccionadas pelo próprio estudante.
A aprendizagem nestes ambientes envolve também a produção de conteúdos desenvolvidos colaborativamente, através de diversas aplicações: blog postings, contribuições nas páginas Wiki ou participação em discussões nos fóruns ou comentários nos blogues de outros membros da comunidade.
Porque são ambientes flexíveis é possível incluir conteúdos elaborados por especialistas na matéria ou por professores, mas também pelos pares/sujeitos que fazem parte da comunidade que partilham os mesmos interesses. Este aspecto tem a vantagem da criação, oferta e uso de recursos educacionais abertos, mas implica, na nossa opinião, ensinar os alunos a lidar com a informação disponibilizada, no sentido de conseguirem distinguir o que são conteúdos válidos e centrarem-se nos aspectos que são essenciais.
A ideia dos PLE reconhece que: i) a aprendizagem é contínua, proporcionada por ferramentas que suportam essa aprendizagem; ii) o indivíduo desempenha um papel importante na organização da sua própria aprendizagem; iii) a aprendizagem acontece em diversas situações e iv) a aprendizagem informal é importante (Attwell, 2007).
Referências bibliográficas:
  • Schaffert S. & Hilzensauer W. (2008). On the way towards Personal Learning Environments: Seven crucial aspects. eLearning Papers • www.elearningpapers.eu • 10 Nº 9 • July
  • Attwell, Graham (2007). The Personal Learning Environments – the future of eLearning? In: eLearning Papers, 2 (1), Retirado em 30 de Dezembro de 2008 de http://www.elearningeuropa.info/files/media/media11561.pdf

Redes Sociais

Redes Sociais são sítios da Web que colocam pessoas em contacto, permitindo a comunicação e a partilha de interesses. Para Recuero (2005) são conexões existentes entre actores, podendo estes ser pessoas, instituições ou grupos, as quais permitem aproximar e ligar indivíduos. Oferecem ainda oportunidades para as pessoas se relacionarem e colaborarem, proporcionando espaço para interacções à volta de actividades e interesses partilhados. A essência das Redes Sociais relaciona-se com a profundidade das conexões que acontecem quando aspectos comuns são partilhados e discutidos. As conexões existentes entre os actores de uma dada rede social são denominadas de laço social, podendo este ser forte (caracteriza-se pela intimidade, proximidade e intencionalidade em criar e manter a conexão entre pessoas) ou fraco (se for disperso e difuso).
Com a existência de redes sociais emergiu uma nova categoria de Websites designada de “Social Network Site”. Boyd e Ellison (2007) definem estes sítios como sendo serviços baseados na Web que permitem às pessoas: i) construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema definido; ii) articular a lista de outros utilizadores com quem partilham as conexões e iii) ver e negociar as suas listas de conexões e as dos outros dentro do sistema. A natureza e nomenclatura dessas conexões variam de sítio para sítio. As redes sociais mais conhecidas são: Hi5, MySpace, Facebook, Friendster, Cyworld, Mixi, Orkut; Ning, LinkedIn, Dodgeball, Flickr, Meetup, Youtube, etc. Muitos destes sítios são, essencialmente, comunidades virtuais de prática e/ou social.
São muitos os jovens que se interessam por este tipo de ambientes, devido, em parte, às possibilidades de fazer parte de uma comunidade, partilhar conteúdos e informação acerca de si próprios, realizar actividades diversas, perceber o que os seus pares pensam acerca de tópicos de interesse do grupo e trocar mensagens com os amigos (The Horizon Project, 2007).
Dado o interesse que os jovens manifestam na utilização deste tipo de software, algumas instituições escolares procuram integrá-las no currículo. Para Boyd & Ellison (2007) estas aplicações podem ser usadas, por exemplo, para: estimular a auto-expressão e proporcionar a imersão em ambientes de línguas estrangeiras. Por exemplo, as aplicações Ning e Elgg, mais usadas na educação permitem, a cada utilizador, organizar um blogue, um perfil na web, um leitor de RSS e um reportório de ficheiros com capacidades de podcasting. Estes e outras aplicações similares proporcionam de forma fácil a criação e sustentação de uma rede social com opções que não exigem muito trabalho sob o ponto de vista técnico, disponibilizando contas a convidados ou novas entradas de comunidades privadas.

Referências bibliográficas:

domingo, 18 de janeiro de 2009

Software Social e ambientes de e-learning

A utilização de tecnologias está a mudar a forma como se aprende. Cada vez é maior o número de instituições escolares que recorre à Internet para desenvolver parte das suas práticas educativas, utilizando, por exemplo, Learning Management Systems (LMS) - como seja a plataforma Moodle. No entanto, lentamente estão a perceber que esses ambientes têm de ir além da reprodução de ambientes tradicionais de aprendizagem, em que a sala de aula é embutida no software.
Segundo Evans (2007) a utilização de Software Social[1] pode possibilitar uma maior fluidez das interacções sociais do que seria possível com os actuais sistemas de gestão do aprendizagem (LMS). Como tal, o desenvolvimento e sucesso do Software Social provocam uma mudança de paradigma do ensino e da aprendizagem, estando a alterar a aprendizagem com recurso à Internet, nomeadamente nas situações de e-learning.
Quando se analisa o ensino na modalidade de e-learning, nomeadamente no ensino superior, verifica-se que a sua maioria utiliza LMS. Porém, dados da OCDE (2005) indicam que as instituições usam-nos principalmente para fins administrativos (admissões, registos, pagamentos, etc.) e que estas têm tido um impacto limitado nas práticas pedagógicas em sala de aula.
Para Dalsgaard (2006) é fundamental o e-learning ir para além dos LMS, bem como envolver os alunos na utilização activa da Web enquanto recurso para a auto-regulação da aprendizagem, para a resolução de problemas e desenvolvimento de actividades colaborativas. O Software Social parece ter potencial para promover esta mudança. Este autor apresenta uma visão da utilização do Software Social no apoio à abordagem sócio-construtivista
[2] dos ambientes e-learning, bem como a argumentação de que os LMS não suportam esta abordagem. Este autor coloca a sua ênfase nas actividades de aprendizagem auto-reguladas pelos alunos. Os LMS parecem estar limitados a este nível. É referido que o processo de auto-regulação da aprendizagem é apoiado pelas ferramentas pessoais do aluno e o seu envolvimento em diferentes tipos de redes sociais.
Segundo Dalsgaard (2006) a utilização dos LMS dentro da moldura conceptual da pedagogia sócio-construtivista, desempenha um papel menor na organização dos ambientes de aprendizagem em e-learning. Por outro lado, o Software Social pode apoiar uma abordagem sócio-construtivista para o e-learning, permitindo que os alunos usem ferramentas pessoais e se envolvam em redes sociais. Esta situação implica que a organização do ensino em modalidade de e-learning vá para além dos centralizados e integrados LMS e use uma variedade de ferramentas separadas e geridas pelos alunos em termos de auto-regulação do seu trabalho. Este autor argumenta que as ferramentas do Software Social capacitam de diferentes formas a utilização da Web nos contextos educacionais.
O Software Social possibilita a criação de Personal Learning Environments - PLE. Os PLE são sítios na Internet ou serviços onde os estudantes podem produzir conteúdos de aprendizagem ou reflexões e armazenar documentos acerca do seu processo de aprendizagem. Os utilizadores devem ser capazes de agregar informações a partir das suas comunidades de aprendizagem, por exemplo, através de RSS feeds ou blogues interessantes. São organizados de acordo com as necessidades e interesses do estudante. São também designados na literatura como sendo os futuros ambientes de aprendizagem virtual.

Para Schaffer e Hilzensauer (2008) existem pelo menos sete aspectos que, embora coloquem grandes desafios e mudanças no ensino a distância, tornam a mudança de LMS para PLE mais óbvia ou importante, que são: i) papel do estudante (mais activo, como criador e auto-regulador de conteúdos); ii) personalização com o apoio de informação resultante do contributo dos membros da comunidade; iii) conteúdos de aprendizagem infinito; iv) papel preponderante do envolvimento social; v) protecção de dados e informação sobre o aluno; vi) significado da aprendizagem auto-organizada para a cultura das instituições e organizações e vii) aspectos tecnológicos do uso de ferramentas do Software Social e agregação de múltiplas fontes.
Estes aspectos encontram-se descritos de uma forma mais detalhada na imagem que se segue.

Referências bibliográficas:
  • Attwell, Graham (2008). Social Software, Personal Learning Environments and the Future of Teaching and Learning. In. A. A. Carvalho (org.). Actas do Encontro sobre Web 2.0. Braga. CIEd. Braga.
  • Dalsgaard, C. (2006). Social software: E-learning beyond learning management systems. In: European Journal of Open, distance and e-learning Retirado em 20 de Dezembro de 2008 de http://www.eurodl.org/materials/contrib/2006/Christian_Dalsgaard.htm
  • Evans, V. (2007). Networks, Connections and Community: Learning with Social Software. Australian Flexible Learning Framework. FLEXIBLELEARNING.NET.AU. Retirado em 30 de Dezembro de 2008 de http://www.flexiblelearning.net.au/flx/webdav/site/flxsite/users/cpickles/public/Final_Report_Social_Software_for_Learning17April.pdf
  • Schaffert S. & Hilzensauer W. (2008). On the way towards Personal Learning Environments: Seven crucial aspects. eLearning Papers • www.elearningpapers.eu • 10 Nº 9 • July ISSN 1887-1542

    Notas:
    [1] Software Social são programas que apoiam a comunicação em grupo, abrangendo uma vasta gama de sistemas de software que permite aos utilizadores interagir e partilhar informações. Essas interacções são mediadas por computadores.
    [2] o conhecimento é construído tendo por base as experiências que o aluno já viveu e as interacções entre o conhecimento actual e as novas ideias e situações (Attwell, 2008)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Aprendizagem e comunidades de prática

Embora a história da humanidade tenha caminhado na procura de tecnologias que facilitassem a realização de actividades por parte do Homem, a sua introdução nos currículos escolares tem percorrido um longo caminho e as mudanças têm sido lentas apesar dos avanços tecnológicos serem cada vez mais rápidos (Siemens, 2008).
No que diz respeito às TIC, registam-se inovações particularmente em três domínios:
i) capacidade para criar e partilhar informações e conteúdos; ii) capacidade para conectar e dialogar com outros, independentemente das questões relacionadas com o espaço e o tempo e iii) capacidade para experienciar realidades simuladas.
Como refere Coutinho (2008, p. 5) estes avanços permitem estabelecer e criar novas dinâmicas de interacção que “levam ao aparecimento de comunidades que se apoiam, criticam e reflectem sobre as ideias apresentadas. Muitas dessas ideias constituem pontos de partida para debates, para novas propostas”. Perante estas novas possibilidades tecnológicas “tudo está em mutação, em construção permanente, resultante da interacção de todos, contribuindo activamente para a inteligência colectiva”.
Este conjunto de alterações tem consequências na forma como encaramos a aprendizagem, surgindo novas perspectivas. Sabemos que a aprendizagem decorre das interacções estabelecidas entre um indivíduo e as pessoas existentes nos seus contextos de vida. Por conseguinte, a aprendizagem é, sobretudo, um fenómeno social que pode ser entendido como o resultado da participação de um indivíduo nas comunidades em que se encontra. Esta óptica da aprendizagem enquadra-se nas perspectivas teóricas que referem a aprendizagem como estando intimamente ligada à prática social e inseparável do contexto onde acontece. É, portanto, o resultado de uma prática situada, dado aprender-se através da participação legitimada em comunidades de prática. Nesta perspectiva a aprendizagem é mais do que um processo no qual o aprendiz internaliza conhecimentos quer eles sejam descobertos, transmitidos por outras pessoas ou experienciados através da interacção social.
É importante olhar para a aprendizagem tendo em consideração que acontece em contextos da estrutura do mundo social. Estas considerações tornam-se cada vez mais pertinentes com os constantes progressos registados ao nível das TIC, nomeadamente quando estão são integradas nos currículos dos nossos alunos.
Em síntese, a aprendizagem, o pensamento e o conhecimento resultam da participação das pessoas nas actividades, nas relações aí estabelecidas, emergindo do mundo estruturado social e culturalmente. A participação na prática social é deste modo fundamental para que a aprendizagem aconteça e o conhecimento seja integrado nas vivências das comunidades, sendo inseparável da prática.

Mas o que são comunidades de prática? Que relação existe entre aprendizagem e comunidades de prática? Qual a sua relevância para as aprendizagens dos nossos alunos, sobretudo as realizadas em ambientes de e-learning? Qual o papel das tecnologias neste processo?

Comecemos por analisar o que se entende por comunidades de prática (CoP). Segundo Wenger (1998) CoP são um conjunto de pessoas que têm interesses comuns, as quais interagem regularmente de modo a melhorar as suas práticas e interacções sociais.
Há três características importantes destas comunidades que é importante referir: o domínio (corresponde a interesses em comum dos elementos da comunidade), a comunidade (representa o espaço onde a aprendizagem acontece, tornando-se um grupo de pessoas que interagem de uma forma colaborativa na construção do conhecimento) e a prática (corresponde ao conhecimento organizado resultante da colaboração entre os membros da comunidade e constitui a sua fonte da coerência).
Para além destas características é essencial ainda considerar três dimensões nas CoP que se inter-relacionam, são elas: o empenhamento mútuo, o empreendimento conjunto e o reportório partilhado.
Estabelecendo alguma relação entre esta informação e a aprendizagem pode referir-se que uma comunidade de prática é “uma condição intrínseca para a existência do conhecimento” (Pinto dos
Santos, 2002, p.3).
Inerente às experiências que acontecem nas comunidades, verificam-se algumas tensões, como por exemplo: i) a exigência de união (a separação no tempo e no espaço cria dilemas para as comunidades, especialmente quando não é possível aos membros interagir face – a - face) e ii) os relacionamentos entre comunidades e indivíduos (a união, o estar junto é uma propriedade das comunidades, mas é algo que é gerado e experienciado pelos membros individualmente e os indivíduos podem pertencer a mais do que uma comunidade).
Como nos dizem Wenger, White, Smith e Rowe (2005) é importante os membros das comunidades inventarem formas criativas de lidar com as tensões existentes. Este aspecto é ainda mais relevantes quando se analisa uniões mediadas, apoiadas e aumentadas pela utilização de artefactos tecnológicos, já que estes possibilitam:
· a interacção: discussão de assuntos, trabalhar em tarefas específicas, formular questões, etc. para os membros que precisam de se conectar em tempos e espaços diferentes, de uma forma assíncrona ou síncrona;
· as publicações: produção, partilha e armazenamento de artefactos relevantes para a prática, pelo que é necessário organizar reportórios e tornar possível e fácil o seu acesso;
· as tendências: a natureza da união dos membros exige que este procurem encontrar formas de participar pessoalmente, assim como cultivar a sua comunidade – ser capaz de ver a comunidade como sendo uma comunidade.
Verificamos, assim, que as tecnologias podem contribuir para expandir as possibilidades de interacção entre as pessoas, portanto também os nossos alunos, seja síncrona ou assíncrona; bem como para discutir, para gerir a documentação, para partilhar, etc. possibilitando às comunidades explorar o potencial de novas actividades.
Desta forma, a tecnologia pode ser um contributo importante para ajudar a diminuir tensões, a quebrar distâncias existentes entre os membros da comunidade em termos de tempo e de espaço e a construir sentimentos de pertença a uma comunidade.

Na realidade, a emergência de novas ferramentas tecnológicas, nomeadamente o Software Social, oferece novos recursos para as comunidades lidarem com as suas tensões internas. Quando havia apenas ferramentas relacionadas com actividades síncronas ou assíncronas a ponte tinha que ser efectuada pelo utilizador individual. Hoje em dia existem ferramentas designadas de híbridas (ibid, 2005, p. 6) que ajudam os membros das comunidades a lidar com essas pontes, as quais podem ser configuradas e usadas de formas únicas. Essas ferramentas auxiliam ainda a gestão de relações entre múltiplas comunidades. Para que tal aconteça é importante considerar:
· as configurações das tecnologias usadas pelas comunidades e pelos seus membros;
· as plataformas nas quais as tecnologias são integradas;
· as ferramentas que suportam as actividades especificas;
· os aspectos das ferramentas e das plataformas que as torna utilizáveis ou que as distinguem umas das outras.

Estes factores são essenciais dado que usar tecnologias menos adequadas pode tornar muito difícil o funcionamento de uma comunidade. Segundo Wenger, White, Smith e Rowe (2005) a chave do sucesso consiste em centrar-se na comunidade: nas suas circunstâncias, nas suas aspirações, nos seus membros e nas suas actividades.

Há ainda outras condições a ter em atenção relativamente ao uso de tecnologias em CoP, que são: as circunstâncias em que são usadas, o design dessas tecnologias e a sua configuração. Estes aspectos são relevantes na medida em que o processo de adopção de uma determinada tecnologia influenciará o modo como essa comunidade vive a sua prática. Como as comunidades são muito diversificadas também as opções de implementação das tecnologias devem corresponder a essa diversidade, indo do simples para o complexo. Por isso é crucial escolher artefactos tecnológicos adequados às circunstâncias específicas de cada comunidade.
É, ainda, fundamental adoptar o processo de design às circunstâncias específicas da comunidade, de modo a que funcione para todos os seus membros e a ajude a ser sustentável.
Em termos gerais o desenvolvimento de tecnologias para as CoP não difere muito de o fazer para outros fins, pelo que devem ser desenvolvidos e aplicados bons princípios de design de tecnologias, como sejam um design que:
i) torne fácil a sua utilização e aprendizagem,
ii) possibilite a sua evolução a partir do uso dos utilizadores,
iii) permita “estar sempre à mão”,
iv) se centre na perspectiva do utilizador.
Considero que estes quatro princípios assumem especial relevância na reflexão e desenvolvimento de práticas de utilização de plataformas de aprendizagem, como seja o Moodle. Ainda mais porque esta plataforma não foi desenhada com esse objectivo.
Em resumo: é fundamental existirem artefactos tecnológicos que facilitem e medeiem a partilha de experiências entre a comunidade e os seus membros, sendo indispensável existirem formas de comunicação que possibilitem a interacção entre os seus membros, nomeadamente em ambientes de aprendizagem em e-learning, de forma a promover a:
· interactividade – facilite a discussão e a partilha de ideias, bem como o trabalho colaborativo e cooperativo, sem barreiras temporais alargadas,
· partilha – possibilite a produção, a partilha, a distribuição e a recolha de informações que sejam relevantes para a prática da comunidade,
· união - permita criar laços na comunidade, promova a participação activa de todos os intervenientes, para que se sintam como parte integrante de um todo.
Desta forma é possível criar comunidades que sejam espaços de vida e de aprendizagem.

Sobre comunidades de prática recomenda-se a consulta do blogue de Etienne Wenger em http://www.ewenger.com/, nomeadamente http://www.ewenger.com/theory/index.htm.

Para terminar a análise deste tópico colocamos duas perguntas: como podemos integrar as comunidades de prática nos currículos dos nossos alunos? Será que esta possibilidade tem vantagens pedagógicas para todos os alunos? Quais os níveis de ensino que mais benefícos podem ter com a sua integração nas práticas pedagógicas?

Bibliografia:
· Carvalho, A. A. (Org.), (2008). Actas do Encontro sobre Web 2.0. Centro de Investigação em Educação (CIEd). Instituto Educação e Psicologia. Universidade Minho, Braga
· Pinto dos Santos, M. (2002). Um olhar sobre o conceito de ‘Comunidades de prática’
· Wenger, E.; White, N.; Smith, J. D. e Rowe, K. (2005). Technology for communities. CEFRIO Book Chapter.
· Siemens, G. (2008). New structures and spaces of learning: The systemic impact of connective knowledge, connectivism, and networked learning. Actas do Encontro sobre Web 2.0. Centro de Investigação em Educação (CIEd). Instituto Educação e Psicologia. Universidade Minho, Braga

domingo, 23 de novembro de 2008

Contributo das TIC na aprendizagem

Um dos contributos positivos que as TIC podem dar ao processo de ensino e de aprendizagem liga-se com o seu uso numa perspectiva construtivista da aprendizagem. Jonassen (2000) refere que as TIC podem ajudar os alunos na aprendizagem e fazerem apelo à sua participação activa nesse processo. Mas se as práticas educativas dos professores continuarem inalteráveis, o uso das TIC terá poucos resultados na aprendizagem dos alunos.
Tecendo alguns comentários à situação nacional, apesar da existência do PTE persistem dificuldades na integração das TIC no processo de ensino e de aprendizagem, nomeadamente no que se refere ao facto de muitos docentes apresentarem falta de proficiência no uso das TIC e da não existência de recursos em quantidade suficiente nas escolas. Estes aspectos são relevantes na medida em que, segundo Miranda (2007), para se verificarem resultados positivos nas aprendizagens dos alunos é necessário capacitar os docentes para efectivamente integrarem as TIC no acto de ensinar e promoverem aprendizagens com a sua utilização explorando as possibilidades das TIC.
É fundamental usar as TIC com os alunos de forma integrada em diversas situações como seja para aceder a informação e para a apresentar, para auxiliar os alunos a construírem conhecimentos significativos, desenvolver projectos, etc. Dominando as TIC os professores podem ajudar os alunos a explorar as potencialidades desses artefactos na construção do seu saber e no desenvolvimento de competências, e assim, progressivamente alterarem a forma de aprenderem.
Para Miranda (2007) é importante considerar que a aprendizagem é o processo re(construtivo), cumulativo, orientado para determinados objectos, situada e colaborativa. Estes aspectos devem ser considerados aquando a integração das TIC na prática educativa, bem como a qualidade da formação técnica e pedagógica dos professores e respectivo empenhamento. Desta forma os resultados da aprendizagem dos alunos podem ser mais positivos.
Portanto, são vários os factores que interferem neste processo: factores individuais (atitudes, por exemplo), factores contextuais (recursos existentes por exemplo) e factores relacionados com a formação, sendo que é necessário ter professores competentes na utilização das TIC no ensino para que efectivamente a sua integração na educação tenha reflexos positivos nas aprendizagens dos alunos (Peralta e Costa, 2007).
Quando se fala em formação de docentes considera-se a formação inicial e a contínua. A formação inicial desempenha, na nossa opinião um papel importante dado que é essencial capacitar, desde logo, os futuros docentes, nos diversos níveis de ensino, para a utilização das TIC na prática pedagógica.


Bibliografia


  • Miranda, G. L. (2007). Limites e possibilidades das TIC na educação. Sísifo. Revista de Ciências da Educação. 03, pp.41-50.

  • Peralta, H. e Costa, A. F. (2007). Competências dos professores no uso das TIC. Sísifo. Revista de Ciências da Educação. 03.

  • Jonassen, D. H. (2000). Computadores, Ferramentas Cognitivas – Desenvolver o pensamento crítico nas escolas. Colecção Ciências da Educação 23. Século XXI. Porto Editora.

domingo, 16 de novembro de 2008

Formas de comunicação e colaboração on-line - Implicações na educação

Embora tradicionalmente a utilização de TIC enquanto ferramentas de aprendizagem se baseasse em métodos individuais de ensino, a interacção social é reconhecida como fundamental para o processo de aprendizagem, pelo que faz todo o sentido usar estes recursos na educação, nomeadamente nos níveis de ensino mais avançados. Este parece ser um poderoso meio para apoiar a colaboração e a negociação social.
Como nos diz Carr (2000, p. 262) usando tecnologia em rede (especialmente a assíncrona) pode proporcionar-se aos alunos oportunidades para estes “desenvolverem as suas competências sociais, de leitura, de escrita, de comunicação e de colaboração”. Criam-se assim, oportunidades que podem facilitar a aprendizagem construtiva e social, já que se apoia a reflexão sobre o que conhecem, podendo na interacção com os outros alterar o seu ponto de vista e os respectivos conhecimentos. Por exemplo, participando em discussões on-line, os alunos são expostos a maior diversidade de opiniões e de perspectivas, o que permite alargar os seus conhecimentos. O facto de ser dado feedback proporciona mais possibilidades destes refinarem as aprendizagens e reflectirem sobre as mesmas.
Assim, os ambientes educativos que estimulam a utilização de comunidades de aprendizagem onde se partilham projectos e objectivos comuns e se colabora para a sua concretização podem constituir-se como ferramentas socio-cognitivas, o que pode ser uma vantagem para a educação.
A utilização destas tecnologias pode ser útil também para o crescimento profissional dos docentes. Os espaços de troca de ideias, partilha de recursos e de dúvidas, por exemplo podem ajudar-nos a aprender a ser melhores profissionais, a colaborar com colegas conhecidos e desconhecidos, etc. Esta partilha pode criar mais oportunidades para melhorar os contextos de aprendizagem, dado o envolvimento dos professores em comunidades de prática, onde existem imensos recursos que podem ajudar a criar oportunidades para que os alunos compreendam mais facilmente certos conteúdos e desenvolvam as suas competências cognitivas e sociais.
Conclui-se, que estes aspectos têm obviamente implicações na forma como organizamos os ambientes de aprendizagem para os nossos alunos. Como diz Carr (2000, p.291) sobretudo a comunicação assíncrona está a mudar a “face da educação”. Estas mudanças revelam a necessidade que o ser humano sente em encontrar novas formas de interagir com o outro, independentemente do lugar onde este se encontre qualquer momento. Porém, para alguns autores o elearning conforme se conhece hoje mantém-se um novo campo. Existem algumas comunidades formadas, mas a maioria não é muito activa, parece que há ainda muito a aprender neste domínio.
O elearning construiu-se a partir de duas disciplinas a educação e a tecnologia, disciplinas por vezes com visões diferentes, pelo que para crescer precisa de mais debate e discussão. As comunidades são áreas onde estas preocupações basilares podem ser discutidas.
Considerando ainda que no processo educativo a necessidade de estender as interacções humanas tem de ser respondida, a utilização de tecnologias que permitem comunicar e colaborar, ainda que on-line, pode constituir um contributo positivo para a educação dos nossos alunos.
De facto, parecem ser imensas as vantagens apresentadas pelo uso desta forma de comunicação e de colaboração. No entanto, como acontece com muitas das ferramentas que o Homem inventa, é preciso saber fazer um bom uso das mesmas e alertar, sobretudo os nossos jovens para o perigo que elas podem apresentar, se não houver algumas precauções. A sua utilização não deve conduzir-nos para um mundo apenas virtual, mas ser usada primordialmente para:

  • melhorar a qualidade de vida
  • ajudar a aprender mais sobre o universo em geral, alargando os horizontes e conhecimentos
  • facilitar o processo de comunicação e de interacção com pessoas interessantes, mesmo que sejam desconhecidas ou estejam fisicamente distantes.

Quando as tecnologias ajudam a ter uma vida mais cómoda e exigem menos esforço na realização das nossas actividades quotidianas, são sempre bem vindas e serão, certamente, usadas por um número cada vez maior de pessoas. Elas podem contribuir para que a necessidade de comunicar e de interagir socialmente se concretize de uma forma mais rápida e fácil, bem como para satisfazer parte da nossa curiosidade pelo conhecimento.
Ao terminar gostaria de referir que considero importante ajudar os alunos a entender como é que as tecnologias que utilizam nas situações do dia a dia podem ser usadas de forma positiva nos contextos educativos e, ainda que aprendam a pensar sobre as vantagens e desvantagens do seu uso, bem como dos perigos que algumas delas podem constituir.

E qual é a sua opinião sobre este assunto?

As TIC na Educação

Para Miranda (2007) Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) são “tecnologia computacional ou informática com tecnologia das telecomunicações” (p.43), sendo que nos nossos dias a Word Wide Web (WWW) ocupa um papel muito relevante neste domínio.
A utilização destas tecnologias na educação deve ter como finalidade auxiliar / contribuir para a melhoria das aprendizagens dos alunos, muitos dos quais recorrem actualmente ao uso de diversos artefactos tecnológicos no seu dia a dia, nomeadamente para comunicarem com os seus amigos e para se divertirem. Alguns investigadores consideram estarmos presentes a mudança de uma civilização de “Homo sapiens” para a de “Homo digitalis”. Por conseguinte, a escola terá (mais cedo ou mais tarde) de acompanhar esta alteração da sociedade.
No sentido de: i) aproveitar ao máximo as potencialidades destes artefactos tecnológicos e ii) ajudar os alunos a desenvolver competências que lhes permita serem tecnologicamente letrados é útil olhar para a utilização das TIC na educação de uma forma critica. Estas competências podem ser desenvolvidas desde cedo, iniciando-se logo na educação pré-escolar. São várias as experiências nacionais relatadas na literatura neste nível de educação, como sejam: “O etwinning no jardim-de-infância de Vila Nova da Baronia”
[1] e “Interacções entre díades face ao computador[2]”.

Quanto à sua integração no ensino básico Miranda (2007, p.44) refere que a integração das TIC no currículo implica questionarmos quais são os conhecimentos e competências que os alunos deveriam adquirir na escola ao longo da escolaridade e como é que essas competências devem ser organizadas e sequencializadas, bem como se essas competências devem ser inseridas nas disciplinas que fazem parte do currículo ou se é necessário criar outras especificas. Será útil pensar ainda se estas opções são antagónicas ou podem ser usadas em simultâneo.
A integração das TIC na educação pressupõe, portanto mudanças na instituição escolar, nomeadamente com o apregoado choque tecnológico, consubstanciado na educação no “Plano Tecnológico para a Educação”. Como projectamos então a escola daqui a 10 anos?

Como poderá ser a escola daqui a 10 anos?
Acredita-se que as TIC irão fazer parte das ferramentas que os professores e alunos utilizarão no futuro nos contextos educativos. Essa utilização irá aumentando progressivamente, mas para que tal aconteça os professores devem ter formação adequada de modo a serem capazes de utilizar as TIC em práticas inovadoras e apelativas, colocando-as ao serviço do processo de ensino e aprendizagem.
Desta forma as TIC permitirá aos alunos construírem conhecimentos e desenvolverem competências. O papel dos professores passará também por fornecer aos alunos as coordenadas para uma navegação eficiente, num oceano imenso, no qual por vezes se sentem à deriva.

Pensando nos alunos com características mais particulares (os alunos com Necessidades Educativas Especiais) julgo pertinente pensar se a utilização progressiva das TIC nos ambientes escolares poderá contribuir para a efectivação de uma Escola Para Todos. Será que ao imaginarmos um cenário possível para os próximos 10 anos pensamos na possibilidade de todas as crianças poderem vir a ter condições para utilizar as tecnologias adequadas às suas necessidades e interesses e que possibilitem o seu acesso à aprendizagem e participação nas actividades escolares e da vida diária?

Espera-se que o sistema educativo no seu plano tecnológico assegure os direitos de todas as crianças a uma educação de qualidade, ajudando-as a serem cidadãos de pleno direito.

Uma das dimensão a considerar para concretizar este objectivo diz respeito à formação dos professores, seja ela contínua ou inicial. Esperamos que daqui a 10 anos a maioria dos profissionais possua competências necessárias para ajudar os seus alunos a usufruir das potencialidades que as tecnologias apresentam em termos educativos.
No domínio da educação de alunos com NEE a especificidade sobre o uso de tecnologias acentua-se, pelo que esperemos que as actuais lacunas possam estar ultrapassadas, na maioria das situações.

Bibliografia


  • Miranda, G. L. (2007). Limites e possibilidades das TIC na educação. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 03, pp.41-50.

[1] CEI, Cadernos Educação de Infância, n.º8 Maio / Agosto 2007
[2] CEI Cadernos Educação de Infância, n.º3 Jan / Abril 2006